PUB

Sonambulismo sexual: O que são as sexónias? Quais os riscos?

24 Jan 2024 - 09:54

Sonambulismo sexual: O que são as sexónias? Quais os riscos?

O sonambulismo é um distúrbio do sono bastante conhecido. Sem acordar, a pessoa levanta-se e pode vaguear pela casa e até sair à rua. No dia seguinte, não se lembra de nada. E se, em vez de vaguear pela casa, a pessoa iniciasse uma atividade sexual a dormir? Esse tipo de parassonia é real e tem o nome de sexónias.

O que são sexónias?

Uma sexónia é um “comportamento anormal do sono durante o qual existe uma ação de sexualidade”, explica ao Viral Miguel Meira e Cruz, diretor da Unidade de Sono do Centro Cardiovascular da Universidade de Lisboa e diretor do Centro Europeu do Sono.

Este distúrbio acontece quando a pessoa inicia “comportamentos de cunho sexual”, de uma forma recorrente, “durante um despertar incompleto”.

Durante um episódio de sexónias, o paciente poderá realizar vocalizações sexuais, movimentos sexuais, masturbação ou até penetração efetiva. Não se trata de um sonho erótico, mas sim de uma forma de sonambulismo com uma forte componente sexual.

“A matriz funcional em que ocorrem são muito diferentes. A maior parte das sexónias deriva do sono NREM [non-rapid eye movement] (que predomina na primeira metade da noite) enquanto os sonhos que nós lembramos (incluindo os eróticos) derivam do sono REM [rapid eye movement]”, explica o especialista.

Durante o sono REM, “salvo em condições excecionais de perturbação”, a pessoa está “inerte do ponto de vista físico”. Ou seja, “existe uma paralisia geral enquanto o cérebro está a funcionar em alta atividade”. 

No entanto, isso não sucede durante o sono NREM, durante o qual ocorrem as sexónias, “razão pela qual há uma permissividade de ação e de movimento”.

PUB

À semelhança de outras parassonias, também as sexónias podem causar “dano físico e dano psicológico para o paciente e companheiros, eventualmente abrangendo o núcleo familiar”, acrescenta ainda Miguel Meira e Cruz.

Em declarações ao Viral, Joana Almeida, psicóloga clínica e terapeuta sexual, afirma que, “nos piores cenários”, existe “o risco de se iniciar práticas com alguém que não tenha dado consentimento”, porque estava a dormir.

“Na sexualidade com o outro, há o risco de se tornar uma agressão sexual”, acrescenta. A situação depende da forma como o parceiro entender este iniciar de atividade sexual inesperado durante a noite, podendo esta situação causar “stress na própria relação”, com um dos elementos a “sentir-se desrespeitado”.

A terapeuta sexual sublinha que “mesmo numa relação romântica, também há risco de a pessoa se sentir violentada, agredida por falta de comunicação”. Joana Almeida aconselha os casais a procurar ajuda de profissionais de saúde quando a situação começar a causar “sofrimento significativo ao próprio e ao outro”.

Uma condição rara que é mais prevalente em homens

Esta condição “é rara”, afirma Miguel Meira e Cruz, referindo que, até ao momento, a “prevalência é desconhecida”. 

Um estudo realizado pela Academia Americana para a Medicina do Sono (AASM, na sigla inglesa) analisou a prevalência de casos de sexónia num centro especializado em distúrbios do sono, concluindo que 7,6% dos pacientes com distúrbios diagnosticados (63 dos 832) reportavam ter “iniciado ou envolvido em atividade sexual com os parceiros de cama durante o sono”.

Esta condição é mais prevalente em homens do que em mulheres: segundo o mesmo estudo, existem três vezes mais casos reportados em elementos do sexo masculino

Miguel Meira e Cruz acrescenta que as sexónias ocorrem, sobretudo, “em jovens do sexo masculino que tenham outro tipo de parassonias, nomeadamente durante o NREM”, tais como despertar confusionais, terrores noturnos, sonambulismo ou síndrome do comer noturno.

PUB

“Normalmente, a sexónia é a última parassonia a ocorrer nestes pacientes. É comum que este tipo de comportamento sexual relacionado com o sono surja no contexto de eventos que predispõem a mudanças de atividade cerebral”, acrescenta o especialista.

As sexónias podem ser espoletadas em situações que “vulnerabilizem a estabilidade e consolidação do sono”, criando “uma matriz neuroquímica” que se expressa na iniciação de comportamentos sexuais. 

O stress, a fadiga, a privação de sono, o uso de álcool ou de outras substâncias e o contacto físico direto com o companheiro de cama podem também ser fatores capazes de precipitar a ocorrência de sexónias.

O diagnóstico desta condição, que só por si é rara, não é fácil de fazer. Uma vez que os pacientes não têm qualquer memória dos atos que realizaram durante a noite, será necessária a intervenção de outra pessoa para identificar estas práticas sexuais.

Além disto, esta situação constitui ainda “um tabu”, o que leva o paciente a “não se queixar ou a esconder” a situação dos médicos, alerta o diretor do Centro Europeu do Sono.

A vergonha foi uma das coisas que uma jovem portuguesa de 18 anos relatou quando procurou ajuda psiquiátrica para os sintomas de depressão que tinha. Foi o namorado quem lhe contou que se masturbava durante o sono. Este caso clínico foi descrito por um conjunto de especialistas, nos quais se inclui Miguel Meira e Cruz. 

“Ao acordar de manhã, ela experienciava dor púbica, sem se aperceber a causa de tais sintomas. No entanto, depois de dormir com o namorado, ele disse-lhe sobre a ocorrência de comportamentos masturbatórios recorrentes durante o sono. Estes episódios ocorriam uma a duas vezes por noite, pouco depois de adormecer”, pode ler-se no artigo publicado em outubro de 2023.

PUB

Os especialistas sublinham a importância de informar os especialistas em psiquiatria e psicologia sobre a sexónias e as potenciais consequências psicológicas, para que o aconselhamento psicológico seja adaptado a esta situação. Também Joana Almeida reconhece que, por ser um distúrbio do sono raro, não há muita informação sobre isso.

Categorias:

Sono

Etiquetas:

Sexónias | Sonambulismo | Sono

24 Jan 2024 - 09:54

Partilhar:

PUB